[Resenha] Jogador N°1, Ernest Cline

Jogador N°1, de Ernest Cline, é um romance futurista ambientado no ano de 2044, onde a terra se encontra em situação de total decadência após guerras e graves problemas ambientais e humanos. O único fator que conforta as pessoas é o OASIS, uma realidade virtual onde podem fazer absolutamente tudo (de se divertir destruindo monstros a ir a escola). Nesta realidade, se insere Wade Watts, um adolescente que vive em uma das piores regiões do que sobrou da terra e cresceu dentro do OASIS. Então, quando o bilionário James Halliday, criador da realidade virtual, falece e não deixa herdeiros para sua fortuna, surge a competição inventada pelo mesmo que coloca todos os usuários atrás do Easter egg que escondeu dentro do jogo, afinal, quem o encontrar herda toda a fortuna e o controle do OASIS. Obviamente, Wade Watts entra na competição.

O livro foi publicado no Brasil pela editora Leya no ano de 2015, e republicado com uma capa diferente (do filme) em 2018. O romance de ficção científica conta com 464 páginas e foi traduzido por Carolina Caires Coelho. A narrativa envolvente e seu universo brilhante conquistou a avaliação positiva de diversos críticos e o livro acabou ganhando uma produção cinematográfica dirigida por Steven Spielberg.

A história se inicia de forma não linear, introduzindo um pequeno trecho do futuro do protagonista para depois retornar ao passado e explicar como o autor chegou naquele ponto. O texto narra a vida de Wade em busca das três chaves escondidas dentro do videogame que levam em direção ao Easter egg de Halliday.

Wade não tem pais, conheceu somente a mãe, que o apresentou ao OASIS, mas era uma viciada e morreu quando ele era bem pequeno. Ele cresce com a tia e seu namorado em um trailer nas pilhas (que são um amontoado de trailers, onde vivem as famílias mais pobres das piores regiões) com diversas outras pessoas. Não existe uma relação familiar com os parentes de sangue, e Wade, que é apaixonado por tecnologia, precisa esconder os computadores que encontra e concerta constantemente da tia, que com certeza os venderia para arranjar drogas.

O único local que Wade encontra conforto é o trailer velho e abandonado que fica perto das pilhas, que é o lugar em que o adolescente acessa ao OASIS, já que precisa esconder seu console. Apesar de ser seu refúgio, o OASIS não lhe apresenta muitas opções de passatempo, já que seu avatar está em um nível bem baixo, e sem dinheiro nenhum, tudo que ele pode de fato fazer é frequentar a escola, acessar a internet e se encontrar com seu melhor amigo Aech — em uma realidade de amizade virtual que remete bastante as que existem atualmente.

Wade também passa um bom tempo estudando o almanaque de Anorak; um manual gigantesco que Halliday deixou para os participantes de sua competição, que fala sobre diversos assuntos relacionados a sua própria vida (na maior parte fazendo referência a cultura dos anos 80) e tende a encaminhar os caça ovos (como se intitulam os competidores) a encontrar as três chaves. Além disso, ele ainda acompanha o blog de uma caça ovos chamada Art3mis, a qual ele nutre uma forte paixão platônica.

O conflito real se inicia quando a empresa que almeja o controle do OASIS, a IOI, revela suas intenções de transformar a realidade virtual em uma plataforma paga, repleta de anúncios. Isso leva todos os jogadores a se revoltar contra a organização, que possui um método bastante desonesto de jogar.

Quatro anos de busca se passam sem que ninguém seja capaz de encontrar sequer uma das chaves, até o momento que o primeiro nome aparece na lista disponível no site de Halliday, que estava vazia desde seu falecimento. O nome é Parzival, que é o avatar de Wade Watts; ele é o primeiro caça ovos a encontrar a chave de bronze de Halliday. 

A partir de então, Wade precisa lidar com as consequências de ser o primeiro a dar um passo na competição, tanto em relação a fama e a dificuldade em continuar mantendo sua identidade em segredo, quanto a parte em que precisa fugir das estratégias da IOI para descobrir como encontrar a chave e eliminar os participantes que acreditam apresentar perigo para sua vitória. Afinal, a organização utiliza meios realmente sórdidos para conseguir aquilo que deseja.

O livro é narrado em primeira pessoa por Wade, e o ritmo se encaixa bastante bem com o personagem. No entanto, ainda na linha de pensamento relacionada a escrita, Ernest Cline coloca um enfoque muito maior na descrição da realidade virtual de Wade do que sua vida real. Isso pode muito bem ser proposital, afinal, como a história é narrada pelo garoto, é notável sua preferência pela vida que vive no OASIS, então pode ser um indicativo de que ele observa mais (ou "vive" mais) no videogame. Contudo, isso acaba por prejudicar um bocado a experiência de leitura, já que as coisas acabam ficando muito superficiais e a maior parte das ações acabam muito rápido. Ler três páginas que descrevem um cômodo é sim bem irritante, mas resumir isto em um único parágrafo também não me parece nada agradável.

A capa do livro é bem bonita e simples e a arte de dentro é muito bem feita, tudo na temática de videogame. Quanto a capa do filme, não tenho muito a opinar; realmente acredito que a única capa de filme bonita que existe é de As vantagens de ser invisível, todo o resto parece um bocado com montagem brega feita para capa de fanfics. É estranho, e eu definitivamente não iria adquirir se tivesse outra opção.

Ao todo, é um ótimo livro, embora o ritmo não seja lá muito bom no início, com o decorrer da história se torna mais fácil e meio que impossível deixar de lado. Também preciso acrescentar que foi um trabalho inteligente colocar toda a história em um único volume; considerando que hoje em dia tantos autores estendem suas histórias em uma grande saga (até mesmo quando não existe conteúdo suficiente para isso), é gratificante ler um volume único bem feito que não tem uma continuação ansiosa por sugar nosso dinheiro.

Não é meu livro favorito e acredito que tenha agradado muito mais os fãs de videogame ou da cultura pop dos anos 80, considerando que existem muitas referências a estes dois pontos. E quando digo muitas, são muitas mesmo; enquanto lia, de 10 referências, eu captava no máximo 3. Foi uma sensação muito diferente do que a sentida enquanto lia Geekerela, por exemplo, onde entendi facilmente todas as referências. Basicamente, é uma questão de perfil, e não acredito que eu me encaixe muito bem no perfil ideal de leitor de Jogador N°1.

Nota: 3.5/5.


Sobre o autor:

Ernest Cline já trabalhou como cozinheiro, peixeiro, atendente de locadoras de vídeo elitista e auxiliar de suporte técnico. Mas sua principal ocupação sempre foi ser nerd, e ele acabou deixando de lado essas promissoras carreiras para expressar em tempo integral o amor pela cultura pop, trabalhando como versista e roteirista. Para sua surpresa, o filme Fanboys, baseado em um de seus roteiros, tornou-se um fenômeno cult. Atualmente, Cline vive em Austin, no Texas, com a esposa e a filha e uma grande coleção de clássicos de videogame.

Fonte: Editora Leya.



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