[Resenha] O bazar dos sonhos ruins, Stephen King


O bazar dos sonhos ruins (The bazaar of bad dreams), mais um livro escrito pelo mestre Stephen King, que tem toda sua bagagem como escritor e um estilo bastante característico de narrativa — o qual conquista tantos leitores —, traz no interior de seu romance uma série de contos, poesias (que foram uma surpresa bastante agradável) e breves narrativas da vida pessoal do autor. O volume foi publicado no Brasil pela editora Suma de letras em 2017, e traduzido por Regiane Winarski.

O livro possui 528 páginas e trata de assuntos bastante caracterizantes de King, como a vida após a morte, culpa, moralidade e o sobrenatural. Em sua maioria, possuem a pitada de terror tão atrativa e são todos muito fáceis de reconhecer como frutos da criatividade de Stephen. No total, a leitura é muito fácil e empolgante.

Apesar de ser um bom volume, O bazar dos sonhos ruins não é a melhor obra do autor. Na verdade, se precisasse escolher um livro de contos de King, muito provavelmente seria Escuridão total sem estrelas. Talvez isso se deva ao fato de que esse romance possui histórias com uma trajetória para acabar no volume, já que o livro foi composto, em sua maioria, por conteúdo que o autor escreveu ao longo dos anos e depois reescreveu, então obviamente não contam com todo o preparo e boa estrutura existente em 1922 ou Gigante do volante, por exemplo.

Porém, ainda estamos falando de um ótimo livro, e O bazar dos sonhos ruins tem um conteúdo de muita qualidade. Os contos são muito cativantes e nenhum deles me deixou entediada ou tentada a abandonar a leitura. As poesias não são as melhores do mundo, mas o próprio autor admite que não são bem sua praia, então, para alguém sem experiência, elas são bastante satisfatórias e têm uma prosa divertida. Foi como ler uma história de Stephen em formato de versos; tudo muito claro e literal.

É impossível e cansativo falar de cada um dos contos, mas acho válida uma pequena análise sobre os meus favoritos, que foram cinco. Antes disso, no entanto, vale a pena comentar os breves textos que antecedem todas as histórias, onde Stephen narra brevemente sobre pontos de sua vida e traz algumas revelações sobre seu pessoal. Além disso, todos os contos possuem dedicatória (de amigos até seus filhos).


Milha 81

O conto de abertura do livro já é um dos melhores. Se assemelhando a Christine, outro romance do autor, a narrativa também se refere a um veículo que possui vida própria. Nesse caso, estamos falando de uma perua muito enlameada, com a porta do motorista entreaberta, estacionada em um posto de gasolina abandonado no Maine. Ao longo do conto, o autor nos apresenta diversos personagens cujos destinos se entrelaçam devido ao automóvel. E, obviamente, também nos fornece uma boa quantidade de sangue e cenas aterrorizantes. 

A igreja dos ossos

O primeiro contato que tive com um poema escrito por King foi uma grande surpresa. Como já dito, não acho que ele seja o melhor poeta, mas seus versos são bastante cativantes. É como uma história comumente escrita pelo autor, só que de forma mais sucinta, sem espaço para apresentações. Basicamente, o interlocutor fala sobre uma expedição (com uma vibe bastante futurística) que se iniciou com 32 integrantes, e foi gradativamente sofrendo baixas nos números.

Ur

Dentre todos, Ur é de longe o melhor conto do livro. De início, parece uma narrativa sem grande pretensão, mas em poucas páginas vai conquistando com maestria o coração do leitor. Conta a história de Wesley, um professor universitário de inglês apaixonado por livros que decide comprar um Kindle, com o intuito de impressionar sua ex "amiga com benefícios" e também professora Ellen Silverman, com a qual o relacionamento terminou justamente devido a uma discussão sobre ele não ler no computador, como todas as pessoas. Tudo caminha para uma linha bastante divertida e clichê, mas como estamos falando de um conto de Stephen King, ocorre uma reviravolta na história, quando Wesley percebe que seu aparelho de leitura digital não é como os outros e passa a apresentar ferramentas surpreendentes e assustadoras que podem trazer grandes revelações.

Indisposta

O conto dedicado a seu filho (também escritor) Joe Hill conquista com facilidade. Não é tão longo quanto os outros, provavelmente porque o que há a se contar é bastante sucinto e cru. Indisposta é narrado em primeira pessoa pelo publicitário extremamente imaginativo Bradley Franklin, casado com Ellen, a qual não aparece tanto na história, afinal, é a própria indisposta do título. Com a esposa doente, Brad precisa de toda sua imaginação para tomar as rédeas da situação, e bem, mantê-la viva (essa é sua única prioridade).

Trovão de verão

O último conto do romance é uma bela despedida de tema muito apropriado. É o fim do mundo, afinal, e Robinson, o protagonista, precisa lidar com o sentimento de perda total em uma realidade dizimada onde suas únicas companhias definham aos poucos, e até mesmo o próprio se extenua pelo tempo. A emoção que ronda a história é densa e bastante melancólica, e não poderia existir uma forma melhor de finalizar esse grande romance.


Em suma, O bazar dos sonhos ruins cumpre bem o que promete, recheado de mercadorias repletas de pesadelos. Por fim, no que se refere ao design da edição, contrariando a opinião geral, achei a capa bastante bonita e bem feita. A tipografia ficou perfeita e a cor preta de fundo caiu muito bem. Além disso, a lombada do livro fica bonita na estante, então não há nada a reclamar.

Nota no Skoob: 4/5.


Sobre o autor:

Stephen King é autor de mais de cinquenta livros best-sellers no mundo inteiro. Os mais recentes incluem Mr. Mercedes (vencedor do Edgar Award de melhor romance, em 2015), Achados e perdidos, Último turno, Revival, Escuridão total sem estrelas (vencedor  dos prêmios Bram Stoker e British Fantasy), Doutor sono, Sob a redoma (que virou série de sucesso na TV) e Novembro de 63 (que estreou no TOP 10 dos melhores livros de 2011 na lista do New York Times Book Review e ganhou o Los Angeles Times Book Prize na categoria de Terror/Thriller e o Best Hardcover Novel Award da organização International Thriller Writers). Em 2003, King recebeu a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation e, em 2007, foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos. Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.

Fonte: Grupo Companhia Das Letras.

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