[Resenha] Geekerela, Ashley Poston

Geekerela, escrito por Ashley Poston, é a mais recente releitura do clássico Cinderela. Nesta versão, a protagonista se chama Danielle e é uma grande fã de uma saga chamada Starfield, a qual seu pai compartilhava o mesmo gosto. Danielle é apaixonada o bastante para, quando seu pai falece e ela acaba com a madrasta e suas duas filhas gêmeas, esta ser praticamente a única coisa que a mantém feliz e esperançosa; Starfield, as lembranças de seu pai e o sonho de deixar sua atual vida para trás (na verdade, ela conta os dias para isso). No entanto, quando uma nova adaptação cinematográfica de Starfield é anunciada, e ela descobre que o protagonista será ninguém menos do que Darien Freeman, uma celebridade teen, seu mundo simplesmente desmorona. Ela não pode lidar com a ideia de que a saga favorita de seu pai será estragada por um astro adolescente, então, Elle decide fazer um post em seu blog, que contrariando todas as suas expectativas, acaba viralizando.

O romance foi publicado no Brasil pela editora Intrínseca, em junho de 2017, traduzido por Rayssa Galvão e se tornou um sucesso quase que instantâneo. Pode-se apontar como principal fator a grande facilidade de se identificar com a trama para muitos adolescentes por aí; em 384 páginas, Poston foi capaz de propor uma história jovem repleta de referências e conteúdo nerd desta comunidade tão grande, além de atrair um grande público com a jogada de uma releitura de um dos maiores contos de fada.

Como na história original, Danielle não tem seus pais, mas nesta versão eles são indiscutivelmente mais legais, considerando que eram ambos grandes fãs de Starfield, a ponto de seu pai ser o fundador de uma convenção dedicada a saga, lugar onde conheceu sua mãe, enquanto faziam cosplay de dois personagens (o príncipe Carmindor e a princesa Amara). Além disso, ela vive com a madrasta Catherine, que é uma inegável megera, abusando psicologicamente de Danielle diversas vezes, e com as gêmeas filhas de sua madrasta, Chloe e Calliope, sendo que a primeira é uma verdadeira pedra no sapato, e a segunda, uma bela caixinha de surpresas.

Seguindo a trama, Danielle trabalha em um Food truck de comida vegana chamado Abóbora mágica (sim, encontramos nossa carruagem) com uma garota de cabelo verde chamada Hera, onde tem um tempo longe de sua vida, em companhia de seu caderno repleto de textos para seu blog e ideias para fanfics. E é exatamente no local que ela escreve a postagem que torna seu blog extremamente conhecido; a furiosa e concisa crítica sobre a escolha do ator para interpretar o príncipe Carmindor, na nova adaptação hollywoodiana de Starfield; um astro adolescente sem muitos trabalhos feitos e inexperiente demais para realizar um bom trabalho, de acordo com sua decepcionada opinião.

Concomitantemente, a narração se coloca sobre o próprio Darien Freeman, que é um grande fã da saga há muito tempo (na época em que ainda não era famoso e podia ter uma vida normal, frequentando convenções geek com seu melhor amigo) e sofre com toda a pressão de ser selecionado para o papel, o qual sempre se identificou e sonhou desempenhar, considerando que como um garoto negro, sempre sentiu dificuldade de se encontrar nas representações da mídia, e o príncipe Carmindor se tornou seu maior exemplo. No entanto, as coisas se tornam difíceis quando ele precisa atuar mesmo fora das câmeras, percebe que a comunidade de Starfield não está nada animada com a ideia dele atuando e provavelmente estragando o que poderia ser um grande papel.

Além disso, Darien lida com as consequências que a fama pode ter em sua vida, e com a falta de empatia das pessoas a seu respeito. Para piorar a situação, seu pai ignora seu maior critério de divulgação, o qual ele esperava que fosse terminantemente respeitado; ele não vai em convenções. Não depois de seu acidente no set de gravações do Seaside Cove (a série teen da qual faz parte) e todas as consequências que este acontecido acarretou. No entanto, ele se vê encurralado em um programa de televisão ao vivo, onde precisa confirmar sua presença na convenção de Starfield e ainda ser um dos jurados para o concurso de cosplay, cujos prêmios envolvem ingressos para a pré estréia do filme, dinheiro e um convite para o grande baile que ocorre no evento. Além de que o vencedor terá o prazer de conhecê-lo (não que ele pense que algum fã esteja lá muito animado com isso).

Enquanto isso, Danielle decide participar do concurso, já que enxerga sua grande chance de finalmente deixar tudo para trás. Mas antes, ela precisa enfrentar o fantasma que a convenção criada por seu pai representa, e é claro, fazer um ótimo cosplay, digno do primeiro lugar. O que também não é uma tarefa muito fácil.

Com uma obra cheia de elementos nerd e uma saga — de forma brilhante — inspirada em Star Wars, Poston atinge seu objetivo de descrever essa paixão tão forte dos fãs por suas sagas favoritas. A história conta com leves referências bastante divertidas e feitas de forma natural, uma narração que caminha entre os dois personagens de destaque, de modo que podemos ver o que está acontecendo e como está acontecendo dos dois lados. Ainda temos uma ótima representação de personagens, entrando de forma sutil em questões como representação na mídia, machismo nas comunidades nerd, homossexualidade, abuso psicológico, idealização (e ouso colocar como despersonalização) de famosos, entre muitos outros temas delicados e necessários.

A edição é muito bonita; a arte da capa (de Timothy O'Donnell) tem as cores certas e a ilustração (de Dan Sipple) é linda, assim como a parte interna do romance. O livro é dividido em partes, e a cada mudança há um fundo estelar com uma frase de Starfield (ou seja, da autora, considerando que a série foi criada por Ashley exclusivamente para a história). A troca de capítulos conta com o nome dos personagens, o que não acho que seja a mais criativa das decisões, mas considerando que a obra tem muita troca de enfoque foi provavelmente a decisão mais inteligente. E os nomes são enfeitados em retângulos bem charmosos. É definitivo, um livro com um bom designer é bem mais prazeroso de se ler.

A mensagem do romance é muito boa, é nítido que a autora atingiu o que estava tentando passar aos seus leitores e em seus agradecimentos pode-se identificar em quanto a obra lhe foi íntima em alguns aspectos; acredito que a maior geek inspiração de Geekerela foi a própria Ashley Poston. 

Um bom Young adult leve e fácil de ler. É uma leitura rápida que não exige lá muita concentração, mas vale muito à pena. Definitivamente uma de minhas obras favoritas dentro desta classificação literária.

Nota: 5/5


Sobre a autora: 
Ashley Poston divide seu tempo entre escrever livros e ser fã. Nasceu e cresceu na Carolina do Sul, Estados Unidos, onde as estrelas brilham como em nenhum outro lugar do mundo.

Fonte: Editora Intrínseca.

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